A forma como compramos mudou, o que fez com que varejistas olhassem para frente e pensassem sobre as tendências do varejo para 2023. As vendas na internet, a exigência dos consumidores e a adesão da tecnologia incentivaram as marcas a repensarem o modelo de negócios e a mentalidade.
Ainda que se adaptar às mudanças conte, o caminho pode ser incerto. Com a transformação, deixa de existir uma receita de bolo. Não há um mesmo modelo a ser copiado.
Originalmente, o varejo se moldou em lojas familiares regionais. Hoje, o setor é liderado por gigantes que conduzem a transformação digital, como a Amazon. A ideia do texto é contar quais são as tendências para o varejo em 2023, revelando como está o mercado no Brasil, qual a projeção para o ano e vários outros pontos. Boa leitura!
Como o varejo funciona?
O varejo se baseia na venda de produtos diretamente para os consumidores. Contrapõe-se ao atacado e à venda a empresas, instituições ou outras lojas. Um varejista compra o produto em grandes quantidades de atacadistas ou fabricantes e revende a quantidades menores, obtendo lucro.
Assim, funciona como a última parte da cadeia de abastecimento dos produtores aos clientes. O varejo tem uma história longa, remontando aos antigos mascates ou aos caixeiros-viajantes. Com o tempo, as lojas saíram da categoria de cabanas simples e se tornaram os centros sofisticados de hoje.
A chegada da era digital fez com que os varejistas passassem a procurar mercados amplos e a vender por canais diferentes, incluindo o varejo online. A tecnologia também ganhou um papel nas formas de pagamentos do mercado.
Como está o mercado de varejo no Brasil?
O varejo no Brasil está fervilhando em transformações. Os shoppings deixaram de ser centros de compras e se tornaram fornecedores de experiências, o Pix derrubou a inadimplência e os custos bancários, e as lojas de rua ocuparam um papel de conveniência, servindo principalmente para compras rápidas no dia a dia.
Assim, o varejo trouxe formatos novos para atendimento e compra. Mas as empresas não podem descuidar do básico. Isso significa que a eficiência e a experiência do cliente são pontos em que vale focar.
As mudanças seguem a esteira do aprendizado sobre o comportamento do consumidor que surgiu na pandemia. Originalmente, boa parte dos varejistas ficou descrente sobre o e-commerce, mas a pandemia acelerou sua adesão. Até a habilidade para lidar com a tecnologia se expandiu, chegando hoje aos idosos.
Qual a projeção para o ano de 2023?
O novo governo começou com um cenário complicado. O mundo caminha para um contexto de inflação alta e preços de combustíveis caros. Isso faz com que os varejistas precisem se preparar para um mercado de crédito caro, dependendo de produtos mais baratos e de compras com capital próprio.
A prioridade após a troca de governo é aumentar os gastos para programas sociais, o que pode exigir reformas econômicas complexas e alianças difíceis. O cenário para o presidente tende a ser mais difícil que o encontrado em 2003, durante o “boom das commodities”.
Se o equilibrismo fiscal ficar difícil, pode acontecer a chamada “fuga de capital”, fazendo com que os varejistas paguem mais caro em produtos importados. Em contrapartida, se a renda dos programas sociais aumentar, uma nova parcela de pessoas pode ganhar poder de compra.
Qual é o papel do varejo na economia?
Os serviços que dão suporte para que o varejo funcione incluem o fornecimento de crédito, a consultoria e a entrega. Boa parte dos varejistas modernos toma decisões em nível estratégico, estudando o tipo de loja, o mercado que vai ser atendido, o suporte ao cliente, a variedade de produtos e a posição no mercado.
A partir do plano estratégico, vem o mix, incluindo preço, produto, praça e promoção. Alguns varejistas também atendem clientes empresariais, mas essas vendas são chamadas de “não varejistas”.
Normalmente, a atividade acontece em lojas ou estabelecimentos comerciais, mas também pode acontecer diretamente. Esse é o caso dos canais digitais ou das vendas porta a porta. Algumas marcas tentam competir oferecendo “preços de atacado”, que servem para encorajar os consumidores à compra.
Como o varejo chegou até aqui?
O varejo existe desde a antiguidade. Envolvia sistemas de troca que provavelmente foram criados há mais de 10 mil anos. Com o crescimento da civilização, o escambo foi trocado pelo varejo, com a venda e a compra surgindo na Ásia Menor.
Na Grécia Antiga, os mercados funcionavam na “ágora”, um espaço livre em que os produtos eram expostos. A Revolução Industrial mudou o varejo e apresentou as lojas de departamento.
A ideia original era não só vender, mas promover uma experiência aos compradores. Assim, servia como um espaço em que os clientes poderiam passar seu tempo e se divertir. A melhoria nos transportes e nos serviços postais tornou possível a compra por correspondência via catálogo.
O que preocupa para o futuro?
As mudanças no varejo fizeram com que as grandes lojas sofressem com a pressão crescente da venda online, o que trouxe redução no seu tamanho. A concorrência e as dívidas comerciais geraram o “apocalipse do varejo”, em que grandes marcas reduziram seu número de lojas físicas ou saíram do mercado.
Esse fenômeno começou em 2010 e foi agravado pela pausa obrigatória provocada pela pandemia de Covid-19. Além do e-commerce, pesam fatores como expansão dos shoppings, compras alavancadas, aumento dos aluguéis, baixos lucros fora de datas comemorativas, efeitos atrasados da crise de 2008 e mudança nos hábitos dos consumidores.
A população tem adotado um novo perfil de compra. Isso inclui a priorização de gastos com experiências em vez de bens materiais, moda casual com roupas confortáveis e compras digitais. A concorrência das gigantes do e-commerce gerou o apelido de “efeito Amazon”.
Quais serão as tendências do varejo para 2023?
A fatia que as vendas online representam em relação a todo o comércio tende a crescer rapidamente. Por isso, esse momento privilegia quem testa e estuda as melhores práticas do mercado. Confira algumas das principais tendências do varejo para 2023 nos próximos tópicos.
Hiperconveniência
A conveniência explora o esforço mínimo e a facilidade. Com o e-commerce, houve um novo tipo de conveniência. Passou a ser possível comprar e receber na própria porta. No entanto, isso também trouxe novos inconvenientes, como o maior tempo de espera entre comprar um produto e colocar as mãos nele.
Os e-commerces mais rápidos raramente entregam os pedidos no mesmo dia. Ainda assim, isso está mudando. A razão é a chamada “hiperconveniência”. A ideia é trazer mais comodidade por meio de prazos de entrega rápidos.
Só que a mudança não vem do setor de varejo. Na verdade, vem de várias empresas iniciantes de delivery que querem uma fatia do mercado das varejistas tradicionais.
Vivenciamento da marca
A lealdade em compras online é mais fluida. Isso acontece porque os concorrentes ficam a um clique de distância. Assim, as empresas passam a criar formas novas de engajamento, fazendo com que o público vivencie a marca.
Um exemplo conhecido é o das boutiques da Nespresso. A marca vendia os produtos por intermediários, mas mudou o foco para o público final. A experiência ficou mais rica e manteve a marca com uma imagem luxuosa.
O movimento foi contraintuitivo porque o online ganhou fôlego graças ao offline. O plano por assinatura Nespresso Clube permitiu que a empresa colhesse dados sobre os clientes e descobrisse as regiões em que viviam os principais consumidores. Assim, a marca já sabia onde abrir as lojas.
Transformação das lojas
O e-commerce vai obrigar as lojas a se transformarem, principalmente por causa do apocalipse do varejo. Com o consumo online, o número de lojas físicas ficou alto. Antes, era preciso ter várias unidades para se manter perto dos clientes.
No entanto, hoje isso já não faz sentido. Por isso, passou a ser importante dar um novo significado aos locais físicos. Além de servirem como uma forma de contato entre cliente e empresa, também podem apoiar o comércio digital.,
Um exemplo conhecido é o da Magazine Luiza, uma empresa que se posiciona como marca digital com pontos físicos. As vendas online representam um percentual alto e crescente do faturamento.
Uma ideia avançada é o “Amazon Go”, um mercado sem caixas ou filas que cobra os produtos automaticamente da conta da Amazon.
Flexibilidade de horários
A flexibilidade de horários aparece entre as tendências para o varejo em 2023 por efeito da pandemia. Com as compras sendo feitas de forma digital, os clientes passaram a buscar a compra simplificada e em qualquer horário.
Os serviços 24 horas disponíveis conquistaram espaço. Assim, serviram como incentivo para flexibilizar a jornada de trabalho e fazer entregas integralmente. Essa lógica aplicada às lojas físicas explica os comércios de tempo integral.
Normalmente, os horários flexíveis envolvem estudos específicos por loja. A ideia é evitar os estabelecimentos vazios e os profissionais ociosos. Aqui, vale conferir dados e apostar em uma força de trabalho capacitada e flexível.
Compras além do celular
As compras via smartphone crescem a passos largos. Ainda assim, não são a única novidade. Hoje, as empresas buscam formas ainda mais práticas. É o caso dos “dash buttons” da Amazon, botões conectados à internet que permitem pedir itens específicos e frequentes, por exemplo, detergente, cereal ou água.
Basta apertar o botão do dispositivo, e a marca fica sabendo que você precisa ter o estoque reposto. Alguns clientes também fazem compras por assistentes virtuais, reforçando a tendência.
Exemplos como Alexa, Google Assistant, Cortana e Siri aparecem entre alguns dos mais populares. Os assistentes são capazes de assimilar falas humanas, responder com vozes sintetizadas e executar tarefas básicas.
Conhecimento preciso sobre o consumidor
Antes da internet, a maior parte das lojas tinha como único dado o número de vendas. A informação era útil, mas não permitia a descoberta do que motivou a decisão de compra. Agora, com a internet, se tornou possível conhecer o público por inteiro.
As lojas têm a oportunidade de descobrir quem é o consumidor, onde se localiza e do que gosta. Um dos exemplos mais famosos é o da Netflix. Com inúmeros dados algoritmizados dos clientes, a marca criou conteúdos moldados às demandas mais frequentes dos consumidores.
A bem-sucedida série Stranger Things, por exemplo, só surgiu porque a marca percebeu que uma parcela grande do público se interessou pelo entretenimento dos anos 1980. A produção reproduziu esse clima.
Omnichannel
O omnichannel é uma estratégia pensada em promover experiências de alta qualidade, com pouco esforço e em vários canais. “Ominis” é o termo em latim para “todo” e revela a integração entre canais físicos e digitais para promover uma experiência unificada.
Com a proliferação de canais, há um potencial grande de experiência desarticulada. Hoje, é possível entrar em contato com uma marca por smartphone, apps, realidade aumentada, chatbots e canais tradicionais de interação física.
Isso provocou uma matriz complexa de formas pelas quais uma pessoa pode envolver uma marca e suas ofertas. As origens do omnichannel aparecem na competição da Best Buy com o Walmart. A marca precisou criar uma abordagem voltada ao cliente na loja física e no site, enquanto intensificava seu pós-venda
Imersão digital
A imersão digital tem marcado presença nos serviços e no varejo. O app de economia compartilhada Uber fez sucesso ao permitir que tudo fosse resolvido por celular, antes mesmo de entrar no carro.
Esse mesmo nível de eficiência tem sido extrapolado para outras marcas. A Starbucks, por exemplo, já permite que os pedidos e o pagamento sejam feitos pelo celular antes mesmo de chegar na loja.
A ideia eliminou boa parte das filas da cafeteria. Outro mercado que vem adotando a imersão digital é o de restaurantes. Alguns estabelecimentos permitem que você consuma sem precisar pedir a conta para o garçom. Basta fazer o pagamento por app e pronto. Os caixas autônomos marcam a novidade nas lojas físicas varejistas.
Jornada sem linearidade
O varejo convencional tem alguns momentos muito bem desenhados. O cliente entra na loja, conhece o produto, toma a decisão de compra e leva o produto para casa. No entanto, a jornada linear já não faz muito sentido.
Isso acontece porque o cliente pode descobrir o produto pela internet e ter seu primeiro contato com a marca na hora de retirar o item na loja física. O caminho também pode passar por vários canais.
Um cliente pode ir à loja para ver de perto algo que já foi comprado pela internet. Isso aumenta a importância de manter canais integrados e coerentes. Seu processo de decisão passa por uma análise de custo-benefício na presença de várias alternativas.
Mais tecnologia com o 5G
Após uma longa espera, o 5G finalmente deu sinais de que vai dar as caras no Brasil. O mercado deve ver investimentos ao longo do ano, com amostras de como os varejistas podem se beneficiar.
Além da velocidade, a tecnologia traz conexão para as lojas. Depois do avanço digital provocado pela pandemia, a presença do 5G é uma novidade que vale ser observada. O padrão de quinta geração começou a ser implementado no mundo em 2019 e é o sucessor do 4G, o padrão que oferece conectividade para a maior parte dos smartphones.
As redes são móveis e os dispositivos se conectam à internet e à rede telefônica via ondas de rádio. Assim, funciona de forma similar às gerações antecessoras. O modelo traz mais largura de banda.
Novo ciclo tecnológico
A tecnologia se intensificou nos últimos anos. Algumas técnicas complexas de fabricação e construção se fizeram necessárias para manter tecnologias ainda mais modernas. Assim, indústrias surgiram para promover gerações de ferramentas complexas.
Hoje, a tecnologia depende de treinamento e educação. Alguns campos inteiros do conhecimento surgiram para apoiar o avanço, por exemplo, a ciência da computação.
O mundo contou com um processo brusco de aceleração tecnológica no começo da década. Só que agora enfrenta uma espécie de ressaca tecnológica, prenunciando um novo ciclo.
Em 2022, houve a reacomodação do varejo pós-isolamento, principalmente o físico. As marcas se redefiniram e se reorganizaram, com o fechamento de lojas deficitárias e o aumento da presença digital.
Acesso ao crédito mais difícil
O crédito é a confiança que permite a uma pessoa ou instituição oferecer dinheiro sem reembolso imediato. Por isso, “crédito” tem a mesma etimologia de “crer”. Coloca-se na forma de uma dívida, com a promessa de reembolso posterior.
A ideia é a lógica por trás dos cartões de crédito e empréstimos bancários. Só que 2023 pode ser um ano de pouco acesso ao crédito. A razão é o alto patamar dos juros, criando barreiras que afetam principalmente os pequenos e médios varejistas.
Afinal, os juros norteiam o crédito. Esse é o principal desafio econômico. Normalmente, o varejo precisa de capital de terceiros para crescer, e essa busca por recursos não tem sido simples. O pouco acesso também pode acentuar as consolidações no varejo, com aquisições de marcas e uniões.
Atenção aos produtos de alto valor agregado
Em 2023, itens baratos podem ter um ano mais favorável. Isso acontece porque não dependem de crédito ou parcelamento, menos acessíveis em um cenário com juros altos. Assim, produtos com alto valor agregado tendem a perder força.
O contexto também exige um olhar mais atento ao endividamento, já que o acesso ao crédito não será tão simples. A taxa de juros funciona a partir da chamada “política monetária”, quando o banco central trabalha para regular o índice aplicado nos empréstimos de curto prazo entre bancos.
O objetivo, normalmente, é manter a inflação a um índice aceitável, deixar os preços estáveis e gerar uma percepção de segurança em relação à moeda nacional. Assim, funciona para aumentar ou diminuir a oferta da moeda, uma das razões por trás da inflação.
Marketplaces em alta
Os marketplaces vão continuar no centro dos negócios dos varejistas em 2023. Tentar fazer o digital sozinho pode ser muito caro. Os marketplaces são sites de e-commerce em que as informações dos produtos são oferecidas por terceiros.
É o principal tipo de e-commerce omnichannel e pode agilizar a produção. No modelo, as compras são processadas pelo marketplace e entregues pelos varejistas. Os sites permitem o registro e a venda cobrando uma taxa.
Normalmente, os marketplaces reúnem produtos de uma variedade de fornecedores, com seleção ampla e disponibilidade maior do que a das lojas específicas das empresas fornecedoras. A partir de 2014, houve uma abundância de marketplaces. Alguns sites têm uma diversidade alta e generalizada de produtos, enquanto outros são específicos.
Aumento do acesso à informação para os consumidores
Há um universo de conhecimento nas mãos dos consumidores. Os smartphones abriram as portas para as redes sociais e resenhas nos próprios sites. Por isso, os clientes passaram a conhecer bem aquilo que querem comprar. Em alguns casos, conhecem mais detalhes do que o próprio vendedor. As varejistas podem usar isso em benefício próprio.
Seja virtualmente ou fisicamente, as empresas podem fornecer informações sobre o produto para construir uma história e atrair o público. Além da cultura dos reviews, hoje é possível ter acesso a influencers que se especializam em falar sobre certos tipos de produtos para um nicho específico, sendo frequentemente patrocinados.
Alguns sites analisam até o atendimento das marcas, contribuindo para sua reputação com selos específicos. É o caso do site “Reclame Aqui”, em que os usuários dão notas para o atendimento e postam suas reclamações. As solicitações podem ser respondidas pela empresa no próprio site, em um campo de mensagens.
As tendências do varejo para 2023 são importantes para os varejistas que querem se adaptar às inovações e permanecer no mercado por mais tempo. O ano deve representar uma virada de ciclo financeiro e comportamental.
Isso é principalmente verdadeiro em relação à tecnologia e aos canais de vendas. O digital vai ter um papel importante nas marcas, mas foi um pouco esfriado pelos resultados fracos da Black Friday de 2022. Com a alta da Selic, as marcas precisam ficar atentas ao risco de endividamento. Assim, isso se combina ao novo governo carregado de interrogações.
O ritmo de crescimento do e-commerce se acomodou, mas ainda está em um patamar alto. As transformações das “retailtechs”, as startups do varejo, também valem a atenção. Para qual direção você acha que o varejo vai se encaminhar? Conte nos comentários!